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A Herdeira Que Está Revolucionando o Mais Antigo Conglomerado das Filipinas

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Mariana tinha 24 anos e trabalhava como analista de ações em Wall Street há mais de uma década, quando recebeu um telefonema de seu pai, Jaime Augusto. O presidente do mais antigo conglomerado das Filipinas, a Ayala Corp., sugeriu que a filha mais velha voltasse para casa. “Ele deu a entender que havia oportunidades nas Filipinas”, lembra Mariana. Ela ressalta que nunca houve pressão e que a opção de voltar para Nova York continuava na mesa. Mas o senso de dever falou mais alto e ela deixou seu emprego no JP Morgan: era a coisa certa a fazer.

Depois de 12 anos aprendendo sobre o negócio em diferentes funções no grupo, que vai desde bancos até imóveis, Mariana, hoje com 36 anos, foi nomeada em março diretora-geral da Ayala Corp. Sua missão é revitalizar o vasto portfólio de locações da companhia, que inclui shoppings, edifícios comerciais e hotéis antigos — muitos construídos após a separação da divisão de imóveis em 1988, quando foi criada a Ayala Land, listada em bolsa três anos depois.

Na mesma época, seu irmão Jaime Alfonso, 34 anos, e seu primo Jaime Urquijo, 37, foram nomeados diretores-executivos do grupo. Com essas promoções, a Ayala Corp. afirmou que a próxima geração de líderes estava pronta para conduzir o crescimento futuro.

“Estamos com todos os motores ligados para os próximos anos”, disse Mariana à Forbes Asia de seu escritório no último andar da torre Ayala Triangle Gardens Tower 2, de 39 andares, na cidade de Makati — sede da Ayala Corp. e de outros gigantes corporativos filipinos, como a fabricante de macarrão Monde Nissin e a operadora de telecomunicações PLDT. Esse centro financeiro em expansão foi o primeiro empreendimento imobiliário da família, construído a partir de grandes áreas agrícolas adquiridas quando as Filipinas ainda eram colônia da Espanha.

A origem da família pioneira

A Ayala Corp. tem suas raízes em 1834, quando Antonio de Ayala e Domingo Roxas construíram uma destilaria para produzir uma bebida saborizada com zimbro chamada Ginebra San Miguel. Essa empresa evoluiu para a maior produtora de gim em volume do país, hoje controlada pelo bilionário Ramon Ang. Antonio, cuja filha se casou com um Zobel, foi posteriormente nomeado diretor do primeiro banco das Filipinas, que deu origem ao Bank of the Philippine Islands.

A família começou a desenvolver a Hacienda Makati no final dos anos 1940, local que abrigou o primeiro aeroporto comercial do país e que, durante a Segunda Guerra Mundial, foi transformado pelos americanos em uma base aérea. Joseph McMicking, um coronel que se casou com Mercedes Zobel de Ayala, da quinta geração, criou o projeto que transformaria essa área praticamente deserta na capital financeira do país.

Jaime Zobel de Ayala, avô de Mariana, hoje com 91 anos, e cuja fortuna de US$ 3,4 bilhões (R$ 18,43 bilhões) o coloca na sétima posição entre os mais ricos do país, assumiu o comando em 1983, quando seu primo Enrique Zobel (falecido em 2004) se aposentou. Em meio a turbulências políticas e econômicas que levaram à deposição do então presidente Ferdinand Marcos Sr., Jaime estabilizou a empresa, listando a divisão imobiliária como Ayala Land. Quando seus filhos — Jaime Augusto e Fernando — assumiram como co-vice-presidentes em meados dos anos 1990, o conglomerado estava pronto para expandir. Os irmãos investiram em novos negócios, com Jaime Augusto assumindo a presidência do grupo após a aposentadoria do patriarca em 2006.

Nas últimas três décadas, o pai de Mariana, Jaime Augusto, e o tio, Fernando Zobel de Ayala, conduziram a Ayala Corp., expandindo os negócios tradicionais de bancos e imóveis para telecomunicações, serviços públicos e, mais recentemente, para educação e saúde. No entanto, o Bank of the Philippine Islands (BPI) e a Ayala Land continuam sendo as maiores fontes de receita do grupo, respondendo por cerca de 95% do lucro líquido recorrente de 45 bilhões de pesos (R$ 4,89 bilhões) em 2024.

Mariana diz que o grande foco do pai para o grupo é construir negócios mais voltados para o consumidor, algo que a inspira profundamente. “Adoro pensar no que vai entusiasmar os consumidores filipinos”, afirma. Embora valorize os conselhos do pai, ela diz que aprendeu mais observando a forma como ele toma decisões: “ele permanece fiel aos seus valores, mesmo quando enfrenta ventos contrários.”

Grandes desafios

Como uma das guardiãs desse legado e com o escritório do pai a poucos metros do seu, a executiva formada por Harvard e Insead não leva a tarefa de forma leviana. “Vimos como as gerações anteriores abriram novos caminhos”, diz. “É algo que esperamos continuar fazendo.”

Enquanto seu irmão lidera os negócios de infraestrutura para veículos elétricos e distribuição de automóveis como CEO da AC Mobility, e o primo foca em metas de sustentabilidade e gestão de riscos como diretor de sustentabilidade da Ayala Corp., Mariana tem pela frente grandes desafios na Ayala Land — a segunda maior incorporadora do país em valor de mercado, avaliada em US$ 6,5 bilhões (R$ 35,23 bilhões).

Ela atua ao lado da presidente e CEO Anna Ma. Margarita B. Dy em um dos maiores investimentos de capital já feitos pelo grupo: US$ 2,5 bilhões (R$ 13,55 bilhões) para ampliar a presença da Ayala Land em todo o país nos próximos cinco anos. “Não se trata apenas dos nossos acionistas familiares, temos acionistas públicos também”, afirma Mariana. “É uma responsabilidade enorme.”

O plano diretor inclui um investimento de US$ 1,5 bilhão (R$ 8,13 bilhões) para modernizar os imóveis de varejo: a meta é reformar oito dos 34 shoppings da rede e construir novos, acrescentando 700 mil metros quadrados à atual área bruta locável de 2,2 milhões de metros quadrados até 2028. Hotéis e resorts da Ayala, operando sob as marcas locais Seda Hotels e El Nido Resorts, também passarão por renovação, junto a parcerias com novas marcas globais. Ainda este ano, a empresa lançará seus dois primeiros “technohubs”, prédios projetados para abrigar empresas de ciência e tecnologia.

“Nossos shoppings, escritórios e hotéis geram um fluxo constante de receita recorrente que complementa o caráter dinâmico do nosso negócio de incorporação”, diz Dy por e-mail. “Sob a liderança de Mariana, não estamos apenas reformando espaços, mas reinventando-os, criando ambientes que reflitam as necessidades de uma nova geração de usuários.”

A Ayala Land está longe de ser uma empresa lenta. Em 2024, registrou receita recorde de 181 bilhões de pesos filipinos (R$ 17,91 bilhões), alta de 20% em relação ao ano anterior. Mas preparar a empresa para o futuro é prioridade, diz Benjamin Garcia, chefe de pesquisa da AP Securities, especialmente para reduzir a dependência das vendas residenciais — ainda a maior fonte de receita da companhia. Além disso, há concorrentes poderosos na disputa.

A SM Prime, maior desenvolvedora de shoppings do país, com 88 unidades e 10 milhões de metros quadrados de área locável, pertencente aos irmãos Sy, está investindo 10 bilhões de pesos filipinos (R$ 989,6 milhões) para adicionar sete novos hotéis ao seu portfólio. A Robinson Land, controlada por Lance Gokongwei e sua família , vendeu em junho nove de seus 56 shoppings a um fundo imobiliário para financiar sua expansão. Já o bilionário Andrew Tan, que atua de imóveis a bebidas, está construindo novos resorts fora da região metropolitana de Manila e firmou recentemente parceria com a rede francesa Accor. Todos estão entre os 50 mais ricos das Filipinas.

Recalculando a rota

Desde que ingressou na Ayala Land, em 2015 — após dois anos na equipe de estratégia e desenvolvimento de negócios da controladora —, Mariana aprendeu na prática o risco de subestimar concorrentes. Começou como gerente de projeto no The 30th Corporate Center, um edifício de uso misto com 19 andares na zona leste de Manila, capital das Filipinas, e dois anos depois se tornou gerente-geral do shopping. Embora a torre de escritórios esteja quase totalmente alugada, o shopping tem ocupação de cerca de 80%, abaixo da meta da empresa de 95%.

Com o tempo, Mariana percebeu que ela e sua equipe erraram ao assumir que, com a marca Ayala, “se construíssemos um shopping, as pessoas viriam”. Também subestimaram a concorrência do SM Megamall, da família Sy, localizado a cerca de um quilômetro de distância. “Essa vivência inicial deu a ela uma compreensão profunda do negócio, desde a base”, afirma Dy.

O orçamento de 18 bilhões de pesos (R$ 1,78 bilhão) para modernizar quatro shoppings de destaque — três na região metropolitana de Manila e um em Cebu — será aplicado de forma estratégica. “Quero garantir que nossos shoppings não apenas atendam à comunidade local, mas também deem motivos para que as pessoas os visitem”, explica Mariana. “Cada shopping deve ter uma história.”

Entre os destaques está o Greenbelt 1, em Makati, o shopping mais antigo do grupo, construído nos anos 1980 e demolido no ano passado. No lugar, será erguido um novo complexo de uso misto, projetado pelo escritório de arquitetura americano Gensler, conhecido, segundo ela, por combinar uma visão global com sensibilidade local. Entre seus projetos está a conversão de um terminal de cargas no Hudson Square, em Nova York, em sede de escritórios para o Google. Com elementos como um sistema de captação de água da chuva para o jardim de três hectares, “será um dos nossos empreendimentos mais premium”, afirma Mariana.

Para a reabertura em 2028, ela já negocia a chegada de diversas marcas de luxo. A Ayala Land já conta com Balenciaga, Hermès e Louis Vuitton entre seus inquilinos de alto padrão. “Isso mostra a força da demanda no segmento premium, que sempre foi o principal mercado deles”, diz Raffy Mendoza, analista da Maybank Securities em Manila. Recentemente, a empresa também renovou seu mix de varejo, adicionando marcas como a rede de moda de Cingapura Love, Bonito, a fabricante americana de perfumes Le Labo e a australiana de artigos para casa e lifestyle Anko.

Apesar do avanço das compras online, Mariana continua acreditando firmemente no varejo físico. “Como as Filipinas não têm muitos parques públicos, os shoppings acabam servindo como ponto de encontro para amigos e famílias”, explica. Em 2024, os shoppings responderam por 23 bilhões de pesos (R$ 2,27 bilhões) ou 13% da receita da Ayala Land, enquanto os projetos residenciais representaram a maior parte das vendas da empresa — embora o crescimento desse segmento tenha desacelerado no primeiro trimestre de 2025. Em um recente relatório de pesquisa, Jelline Gaza, analista do JP Morgan em Manila, atribuiu a fraca demanda a um excesso de oferta de condomínios na região metropolitana da capital.

Aposta no turismo

Em outra frente, a Ayala Land está apostando alto na expansão de seu portfólio de hospedagem, contando com um boom no setor de viagens. A empresa vai investir US$ 500 milhões (R$ 2,71 bilhões) em reformas e novas construções para quase dobrar seu número atual de quartos, chegando a 8 mil até 2030. Em maio, adquiriu o hotel New World Makati, com 578 quartos, por um valor não divulgado, da New World Development, empresa de Hong Kong controlada por Henry Cheng e sua família e sobrecarregada por dívidas.

“O turismo é um setor amplamente inexplorado no país”, afirma Mariana. “Com investimentos adicionais mínimos, podemos colher grandes benefícios.” Embora as chegadas de turistas tenham crescido quase 9%, chegando a 5,4 milhões em 2024, esse número ainda está bem abaixo do pico de 8,3 milhões registrado em 2019, pouco antes da pandemia de Covid-19, segundo dados do governo.

A receita do setor de hospedagem cresceu 10%, alcançando 2,6 bilhões de pesos (R$ 257,2 milhões) no primeiro trimestre, após um aumento de 11%, para 9,7 bilhões de pesos (R$ 959,5 milhões), em todo o ano de 2024, segundo a Ayala Land. “Nossos hotéis estão indo muito bem”, afirma Mariana, acrescentando que, em março, as diárias do luxuoso El Nido Resorts, em Palawan, subiram quase 80% em média em relação ao ano anterior, graças à alta demanda pelas vilas na ilha, que podem custar mais de US$ 1.000,00 (R$ 5.420,00) por noite. Além da expansão da rede de hotéis de negócios Seda, que administra quase 3,3 mil quartos em 12 propriedades, Mariana diz que a empresa está preparando duas novas marcas locais para oferecer aos turistas a hospitalidade filipina. “O turismo é um setor amplamente inexplorado no país. Com investimentos mínimos, podemos colher grandes benefícios.”

“Estamos constantemente conversando com redes internacionais de hotéis para possíveis parcerias”, acrescenta. A Ayala Land deve abrir no ano que vem o Mandarin Oriental, com 276 quartos, em seu complexo de Makati, e seu projeto mais recente é um hotel de 260 quartos da marca Moxy, do grupo Marriott, que será inaugurado no final de 2026 em um empreendimento de uso misto da Ayala na periferia de Makati. A empresa também possui três hotéis administrados pela Fairmont, Holiday Inn e Raffles. “Incorporadoras realmente precisam diversificar suas fontes de receita além do setor residencial, e hotéis parecem a melhor escolha”, afirma Garcia, da AP Securities.

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